Tocar/cantar na missa, uma experiência de amor
Durante algum tempo, cerca de três anos, não obstante meus limites técnico-musicais, eu, por amor, toquei semanalmente em celebrações eucarísticas. Quando fui morar em outra cidade, deixei de tocar e um ano depois, ao retornar à minha cidade, por amor, optei por não mais tocar na missa. E isso já faz 6 anos.
Agora você, meu irmão, que toca/canta em Missa, já sabe que eu também fiz essa experiência de
amor por alguns anos. E, por isso, te convido a juntos pensarmos em qual é o objeto do amor que nos faz assumir compromissos semanais, horas de ensaio, escolha de repertório, além de nos expormos às críticas de tantos padres e fiéis que sempre parecem insatisfeitos com nosso apostolado musical.
À medida que fui recebendo mais formação litúrgica e teológica e fui aprofundando minha experiência espiritual ao participar da Santa Missa, algumas coisas que antes eu considerava normais e certas, que eu via acontecer na ação litúrgica, foram se desencaixando no meu interior. Mas, o que poderia ser só um desconforto pessoal, revelou-se algo mais sério quando li a Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, do Papa João Paulo II. Naquele momento, percebi que o meu desconforto tinha origem no anseio de amar a Deus de forma mais perfeita. Na referida encíclica, o Santo Padre declara: “O sacerdote que celebra fielmente a Missa, segundo as normas litúrgicas, e a comunidade que adere a elas demonstram de modo silencioso, mas expressivo, seu amor à Igreja” (EE 52). A partir disso tenho refletido sobre qual o amor que nos move (permitam-me ainda me incluir) a fazer as escolhas musicais que fazemos para a Santa Missa. Será que na maioria das vezes não é o amor a nós mesmos, às nossas opiniões e gostos? Será que outras tantas vezes, depois de conseguirmos nos desapegar das nossas opiniões, não fazemos as escolhas motivados somente pelo amor ao próximo? “Escolho as músicas que o povo gosta!”. Mas, será que não deveríamos manifestar nosso amor primeiramente pela nossa Mãe Igreja, a Esposa de Cristo? Nem toda prova de amor vem acompanhada de romantismo, admiração, reconhecimento ou até mesmo compreensão, basta pensar na maior prova de amor da história - a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus - para termos isso atestado. Dessa forma, não estaria no tempo (ou até mesmo passado do tempo) de amarmos mais a Nossa Mãe Igreja e a obedecermos, sabendo que o que ela nos indica ela não o faz sem sentido, mas, sim, para NOSSA salvação e a glorificação de Deus, que, aliás, são as finalidades da Santa Missa? Será que não existe um motivo maior do que servir a nossa musicalidade ou a nossa preguiça em musicar um texto tão longo que justifique o Hino de Louvor ter todos aqueles versos e aquele conteúdo? Será que para aclamar ao Santo Evangelho basta cantar “Aleluia” independente do contexto em que a palavra é colocada? Até quando vamos insistir em fazer versões mais “bonitas e modernas” das partes fixas, que não podem ser alteradas? Até quando vamos amar mais a nós mesmos e aos nossos irmãos do que à Deus e à Santa Igreja? Há algum tempo esses questionamentos têm incomodado meu coração. Não escrevo este texto em forma de crítica, mas como um convite à reflexão. Assumo que, no tempo que toquei na missa, cometi inúmeros erros. Por essa razão, minha opção por não tocar mais justifica-se por eu saber que sozinha (violão) não teria condições de mudar o cenário e, assim, tenderia a cometer os mesmos erros, mas dessa vez sem mais ignorá-los. E, por isso, eu decidi manifestar de “modo silencioso, mas expressivo, o meu amor à Igreja”, e você, não acha que está na hora de fazê-lo também?