Eucaristia fora da igreja
"A missão primeira e fundamental, que deriva dos santos mistérios celebrados, é dar testemunho com a nossa vida. O enlevo pelo dom que Deus nos concedeu em Cristo imprime à nossa existência um dinamismo novo que nos compromete a ser testemunhas do seu amor. Tornamo-nos testemunhas quando, através das nossas ações, palavras e modo de ser, é Outro que aparece e Se comunica." (SCa 85)
Quando se trata de Eucaristia, é um risco grande ater-se à dimensão mística deste que é o maior mistério da fé cristã. Não há dúvidas de que viver a eucaristia passa pela celebração ritual da Santa Missa, passa por se colocar na presença eucarística de Jesus, por adorá-Lo fora da liturgia. Entretanto, "A espiritualidade eucarística não é apenas participação na Missa e devoção ao Santíssimo Sacramento; mas abraça a vida inteira" (SCa 77).
Alguém de comunhão/adoração diária, mas que se mantém tendo os mesmos comportamentos, sobretudo os que demonstram indiferença ao próximo, deve ser questionado quanto à sinceridade de abertura com a qual se coloca na presença eucarística de Jesus.
A eucaristia deve nos remeter à lembrança do maior ato de amor que já se viu sobre a terra: a entrega total de Cristo por nós. E, ao se deparar com essa realidade plena do amor de doação, o cristão é convidado a, de fato, ser um outro Cristo no mundo de hoje e a ter "esta mesma caridade em todas as suas atitudes e comportamentos de vida" (SCa 82).
Todo fiel católico, independente do estado de vida ao qual Deus o tenha chamado, deve buscar viver esse mesmo amor doação. Todas as relações sociais deviam ter como pano de fundo a disposição de dar-se ao outro, gerando vida nele. Se nas relações familiares e profissionais, se entre os vizinhos e frequentadores das mesmas comunidades paroquiais, houvesse esse compromisso, certamente a realidade do mundo na qual nos encontramos seria outra. Se os 5 mil fiéis que participam semanalmente da celebração eucarística dominical numa paróquia, saíssem da missa com o compromisso de durante a semana viver o amor doação para com os irmãos, assim como Cristo que se dá na eucaristia viveu, estaríamos muito mais próximos de ter celebrações mais coerentes e agradáveis a Deus.
A Santa Missa tem em si a característica de ser um culto oferecido a Deus e é a ele que deve ser agradável. E assim será, não na medida em que fizermos as coisas dentro da celebração da forma como nos satisfaz, mas, sim, quando cada fiel for para a celebração dominical da Santa Missa após ter vivido uma semana de caridosa doação de si aos irmãos, à sociedade. Terá muito mais sentido e este será muito mais pleno, se quando o sacerdote disser: "Isto é meu corpo que é dado por vós", o fiel leigo puder também fazer o oferecimento de si próprio, sem reservas na doação aos irmãos, não sobre o altar, mas no cotidiano, por vezes secular.
É preciso que todo aquele que comunga do Corpo do Senhor nas espécies eucarísticas e se coloca em adoração diante delas permita que Cristo passe a estar presente no mundo por meio de sua vida leiga cotidiana.