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Eucaristia e Cruz


Nas últimas décadas, a ligação entre a Eucaristia e a Cruz tem sido ofuscada por concepções errôneas quanto à natureza da celebração eucarística. Após o Concílio Vaticano II e a Reforma Litúrgica por ele realizada, a liturgia vem sofrendo diversos abusos, em muitos casos perdendo o foco de seus objetivos, que são: adorar a Deus, agradecer-lhe por seus benefícios, pedir-lhe dons e graças e a satisfação por nossos pecados.


Muitas vezes, mais por ignorância do que por maldade, há quem busque fazer da Celebração da Eucaristia um momento de festa, de encontro comunitário. Porém, o que realmente se consegue com isso é ofuscar aqueles que são os fins de sua celebração, na medida em que esta se torna extrovertida (festiva) demais, dificultando o recolhimento, a contemplação e a vivência do Mistério ali celebrado. A Santa Missa não é o lugar para termos os nossos gostos satisfeitos, tampouco é o momento para nossas necessidades humanas de encontro, festa e convivência, que devem ser priorizadas em outros momentos da vida eclesial, e não na Santa Missa, cuja finalidade é outra.


A missa é a atualização do Sacrifício de Jesus Cristo na Cruz, o mesmo e único sacrifício do Calvário. Mas não é porque é a celebração do Sacrifício de Cristo que a Santa Missa deve ser revestida por um caráter fúnebre. A participação na Eucaristia deve ser feita com muita alegria, afinal é a celebração daquilo que nos possibilita a salvação, é um encontro entre a Igreja padecente, militante e triunfante, mas o caráter festivo não deve se sobrepor à sobriedade própria do momento.


Para fazerem da missa um momento mais extrovertido, alguns usam o argumento de que ela também tem uma dimensão de ceia e banquete, mas não podemos perder de vista que este é um banquete sacrifical, o alimento servido não é o de uma ceia comum, é o Corpo e o Sangue do Senhor sob as aparências de pão e de vinho. A Eucaristia foi instituída para perpetuar no tempo e no espaço o Sacrifício de Cristo na Cruz, e não a ceia realizada.


Há também quem goste de ressaltar a presença do Ressuscitado como justificativa para celebrações eucarísticas mais "extrovertidas". A alegria pela presença do Ressuscitado deve haver, mas não pode entrar em conflito com a natureza sacrifical da Santa Missa. Alegres pela presença do Ressuscitado e por seu gesto salvífico, sim! Extrovertidos perdendo a sensibilidade para o Mistério que se dá diante dos olhos, não! Dificilmente alguém que bate palmas, dança e faz outros gestos que transparecem alegria e animação conseguirá se colocar em companhia do Cristo no calvário durante a Santa Missa.


Faz-se necessário formar os fiéis quanto ao que de fato é a Santa Missa e sua finalidade para que, assim, ela possa ser, conforme seu sentido, melhor vivenciada em sua totalidade por todo o povo de Deus.


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